Aprendizagem regenerativa: a educação para o futuro que queremos
6/25/20252 min read


Durante muito tempo, a educação corporativa esteve focada em produtividade, desempenho técnico e eficiência — ou seja, em aspectos ligados às hard e soft skills, com foco quase exclusivo nos negócios. Essa abordagem, no entanto, frequentemente ignorava o planeta, as pessoas, a diversidade.
Mas os desafios do nosso tempo — como a crise climática, as desigualdades sociais e o adoecimento nas relações de trabalho — exigem uma nova abordagem: mais ampla, mais consciente e, sobretudo, mais humana. Surge, então, a aprendizagem corporativa regenerativa.
O termo “regenerativo” talvez já soe mais familiar atualmente, em parte por conta das IAs (Inteligências Artificiais). No entanto, neste contexto, ele tem origem em pensadores como Otto Scharmer, com a Teoria U, e Peter Senge, com sua obra A Quinta Disciplina. Essa perspectiva propõe que o aprendizado nas organizações não seja apenas reativo, mas transformador e conectivo. O objetivo deixa de ser apenas resolver problemas: é preciso curar sistemas — criando ambientes de trabalho que gerem impacto positivo para as pessoas, para o planeta e para o próprio negócio. Afinal, não é mais possível focar apenas no lucro e ignorar o mundo ao redor.
Scharmer nos lembra que as organizações precisam “aprender a aprender com o futuro que emerge”. Já Senge defende a construção de organizações que aprendem, em que todos são coautores de um sistema mais consciente e sustentável. Ambos reforçam a importância do propósito coletivo e de uma cultura que favoreça a escuta, a colaboração e a visão sistêmica.
O Fórum Econômico Mundial também endossa essa direção ao afirmar que as habilidades do futuro não serão apenas digitais ou técnicas, mas principalmente sociais, éticas e regenerativas — como empatia, pensamento crítico, consciência ambiental e valorização da diversidade.
Empresas globais como Patagonia e Unilever já vêm adotando práticas que refletem esse novo paradigma. A Patagonia, por exemplo, insere o ativismo ambiental como eixo central da sua cultura organizacional, promovendo treinamentos que estimulam a conexão com a natureza e o consumo consciente. Já a Unilever integrou o propósito social à estratégia de negócios, investindo em programas de liderança que valorizam a inclusão e a sustentabilidade em escala global.
No Brasil, esse movimento ganha força com o avanço das pautas de ESG (Ambiental, Social e Governança). Recentemente, uma professora amiga publicou um post no LinkedIn dizendo: “ESG é um currículo vivo”. Achei sensacional a brincadeira com as palavras e, mais do que isso, a verdade contida na frase. Muitas empresas já entenderam que práticas regenerativas não são apenas tendência, mas necessidade estratégica, como escreveu essa professora. O que antes era tratado como um selo de responsabilidade agora ocupa o centro das formações de liderança e da cultura organizacional, abrindo espaço para conversas profundas sobre diversidade, impacto social, justiça climática e bem-estar coletivo.
Investir em aprendizagem regenerativa é formar líderes e equipes com consciência crítica, capacidade de diálogo e desejo genuíno de transformar o mundo à sua volta. É educar para um futuro com propósito, impacto e legado.
Saiba mais em:
SCHARMER, Otto. Teoria U: como liderar pela percepção e realização do futuro emergente. Rio de Janeiro: Alta Books, 2010.
SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. 21. ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2009.
WORLD ECONOMIC FORUM. The Future of Jobs Report 2023. Genebra: WEF, 2023.